quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Trem sem condutor é mais veloz e eficiente

19/08/2015 - Valor Econômico

O passageiro desce na estação do metrô Plärrer, na área central da Nuremberg, e, ao andar pela plataforma, vê o trem fechar as portas e arrancar em velocidade. Seria uma cena comum não fosse o fato de o comboio seguir viagem sem um condutor a bordo. Nuremberg, no norte do Estado da Baviera, foi a primeira cidade da Alemanha a implantar um sistema de metrô totalmente automatizado. Esse sistema, com base na tecnologia da alemã Siemens, se espalhou por outras grandes cidades como Paris, Barcelona e Budapeste, na Europa, e também em São Paulo, no Brasil, onde funciona na Linha 4-Amarela do Metrô.

"O sistema automatizado de operação é melhor [do que o sistema tradicional] pois é mais flexível e permite maior rapidez no tempo de resposta", diz Oliver Früh, diretor de gerenciamento de tráfego da VAG, empresa controlada pela cidade de Nuremberg, responsável pelo sistema de metrô, de bondes e de ônibus em municípios da região. O metrô, com três linhas (duas das quais automatizadas), transporta cerca de 300 mil passageiros por dia.

A flexibilidade citada por Früh significa que se o número de passageiros aumenta por força de um grande evento, por exemplo, carros adicionais podem ser inseridos nos comboios do metrô de forma automática. A automação de sistemas permite aumentar a eficiência e a capacidade de transporte em até 50% uma vez que os trens transitam com intervalos menores entre uma composição e outra.

Há também economia de eletricidade pois os veículos consomem menos energia graças a ganhos nos processos de aceleração, tração e freios. Nuremberg, uma cidade antiga - com registros que datam da Idade Média -, tomou a decisão de implantar o metrô em 1972, ano da Olimpíada de Munique, a capital da Baviera. A região metropolitana de Nuremberg é formada por oito cidades nas quais vivem 2,6 milhões de pessoas. Só em Nuremberg são 833 mil habitantes.

A automação surgiu como uma forma de tornar a infraestrutura de transporte de massa mais eficiente e, nesse contexto, linhas de metrô vêm sendo modernizadas e equipadas com controle automático de trem (ATC, na sigla em inglês) e sistemas mais seguros. Intervalos mais curtos entre os trens, entre 80 e 90 segundos, são viáveis com a automação. A pontualidade do serviços também melhora.

No Brasil, apesar de melhorias e investimentos recentes, ainda há grandes desafios na área de mobilidade urbana, incluindo metrôs, trens metropolitanos e o transporte rodoviário. Parte desses desafios passa por melhorar a infraestrutura de transportes e também a segurança do tráfego, o que se relaciona com o gerenciamento de todo o sistema. O Rio vai passar por um grande teste de mobilidade urbana na Olimpíada de 2016.

Mas os desafios vão além do Rio. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), responsável pelos sistemas ferroviários em Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Maceió (AL), João Pessoa (PB) e Natal (RN), disse que tem previstas reformas, construções de novas estações e recuperação de vias permanentes. "Projetos que ainda estão em andamento possibilitarão no futuro a especificação e aquisição de sistemas de sinalização e comunicações", informou a CBTU em nota.

Em Nuremberg, a automação do metrô se deu no começo dos anos 2000 e foi implantada por etapas. Em uma fase intermediária do projeto, trens totalmente automatizados operaram junto com trens convencionais - com condutor - em uma mesma linha, um feito inédito em metrôs do mundo. O avanço da operação automática em Nuremberg reduziu em 40% o intervalo entre os trens, de dois minutos e trinta segundos no sistema convencional para um minuto e quarenta segundos no sistema automático. A operação automatizada em Nuremberg conta com funcionários treinados nas estações para dar suporte aos passageiros e por um centro de controle operacional no prédio da VAG onde o sistema é monitorado.

"O objetivo é usar a tecnologia para tornar uma solução mais eficiente em todo o ciclo de vida da operação", diz Paulo Stark, presidente da Siemens no Brasil. A tecnologia pode ser usada para gerar valor no negócio e para melhorar a taxa de retorno, afirmou. Citou como exemplo a Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo, onde a automação garantiu não só maior eficiência na operação, com redução no intervalo entre os trens, mas também mudou o sistema convencional de sinalização e controle. "Quando um trem fica mais tempo do que o previsto na plataforma, os trens que vêm atrás ajustam a velocidade e isso elimina fatores de ineficiência", disse Stark.

O Metrô de São Paulo informou que enquanto o sistema automatizado tem capacidade de operar com intervalo de 75 segundos entre cada trem, no sistema convencional esse tempo entre as composições é de 100 segundos. Segundo a ViaQuatro, concessionária que opera e faz a manutenção da Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo, a implantação do sistema de automação integral levou pouco mais de três anos.

"Apesar de aparentemente a operação ser mais simples devido ao alto grau de automação, o sistema em si é muito mais complexo em função da tecnologia empregada e de todos os sistemas de segurança e controle inseridos. A segurança e confiabilidade deste sistema são muito superiores a um sistema convencional. Por ser um sistema automatizado, está menos sujeito à interferência e falhas humanas", diz a ViaQuatro em nota.

A concessionária se referiu à linha 4-Amarela como o primeiro contrato de Parceria Público-Privada (PPP) assinado no país. A concessionária já investiu US$ 450 milhões entre sistemas, equipamentos e trens. Ao longo dos 30 anos da operação, a previsão é que a ViaQuatro invista US$ 2 bilhões.

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